O sono adia-se e em seu lugar, pensamentos sem nexo ou casualidade populam na mente. Com a insistência adormecemos, sendo inundados de sonhos vívidos que mais parecem maus anúncios, sem sentido ou significado. Voltamos a acordar de madrugada e com insistência voltamos a adormecer neste sono tablóide que teima e nos transporta à tona. O sol volta a surgir no céu e cedemos em levantar. Tem sido assim nas últimas noites? É natural, não está sozinh@, com as devidas exceções é uma tendência geral deste período.

Na visão ocidental os equinócios e solstícios anunciam o início das estações, ao passo que na visão energética e oriental, estes assinalam o auge energético de uma estação já bem firmada. A sazonalidade de uma estação é mais do que o estado do tempo. Mesmo que o verão seja frio e o inverno quente, o movimento energético caraterístico da estação prossegue com os devidos reajustes. Na Primavera a energia que predomina é a  de um movimento em que a natureza ascende, acelera e toma impulso. De acordo com os 24 termos solares, o Equinócio da Primavera (春分 chūn fēn) corresponde ao 4º termo solar, sendo o Lichun (立春), o 1º termo solar que assinala o Início da Primavera. No equinócio, já a primavera vai a meio, atingido neste dia o seu auge. Já nenhum bicho dorme e toda a natureza está agora desperta. A energia da Primavera está associado à fase energética da Árvore e em conjunto com outras manifestações, tais como: o período da manhã, a juventude, o impulso, a aventura, o fígado, a vesícula, a visão, os tendões, a atividade mental, as emoções exacerbadas, a revolução e a rebeldia, a frescura, a tempestade, a aventura e a descoberta, entre tantos outros. A energia global que carateriza o ano de 2023 é também da fase Árvore, na sua faceta mais yin, o “Vento”. Este ano é repentino e o próximo será ainda mais. Este ano é o treino e em 2024 é a sério, com a vinda do “Trovão”. Mas isto são palavras para outros artigos.

Este é também um período em que os raios solares brilham com muita intensidade, numa frequência que ofusca e estimula um ambiente mais ativo, mais yang. Há um impulso interior de carregar no acelerador, mudar de súbito e acidentes sucedem-se. Um teste à paciência se tivermos bem alinhados ou de muita raiva e frustação se a mesma tem vindo a ser reprimida. Também o sono profundo é uma miragem, adormecer já é uma sorte e é natural que acordemos ao longo da noite, pois todo o ar vibra com esta energia de “pssst… sai da toca!”.

As sementes de dentes-de-leão encontram-se maduras e aos poucos vão estando prontas para serem sopradas aos quatro ventos. De forma paralela, o mesmo sucede-se connosco e devemos explorar para lá das fronteiras (re)conhecidas. Sair da casca, desabrochar a crescer. Devemos fazer os possíveis por acalmar entre a uma e as três da madrugada e viver a manhã em pleno, com o nascer do sol para ajustarmos os Ciclos Circadianos nesta fase.

Simplicidade e renovação, é o que melhor serve nesta fase. Devemos descomplicar todos os aspetos da nossa vida e destralhar para renovar. Menos é melhor e uma limpeza a fundo na casa, no sotão, no bau, é vital a que possamos receber vitalidade. Soltar os cabelos e caminhar a passos largos, libertar a voz e o corpo para que possa enfim, manifestar-se numa vida em tudo perene e fabulosa. Devemos acalmar o consumo de comidas muito processadas, refinadas, e que tenham um longo tempo de cozedura. Procurar alimentos com vitalidade, tais como rebentos, alho-francês, aipo, salsa, nabo e cenoura e escolher as Frutas e Vegetais da época. E porque o nosso fígado vai andar um pouco mais assoberbado em trabalhos, devemos reduzir o consumo de café e outros estimulantes e apostar mais no chá de dente-de-leão ou chá de nabo com cenoura.

Este é um período de maiores tensões, em especial nos tendões. O corpo irá estalar mais que o habitual, ficando um pouco mais crocante à medida que se vai libertando dos resquícios da contração e abrindo-se ao novo período.

Soltar, simplificar, expandir, criar, expressar e aventurar são as palavras de ordem desta fase. Boa sorte e bons ventos!

Permanecendo em quietude sem nada fazer, a primavera chega e a erva cresce por si só.

Provébio Zen, referindo-se à realização sem esforço inerente da natureza