Qingming, o 5º Termo Solar

Começou em inicios de abril e estende-se em duas longas semanas, o Qingming (清明, Qīngmíng) o quinto termo solar.

Semicerra os olhos, ofuscado pela luz brilhante que o encadeia. Os óculos escuros parecem não ser suficientes para o proteger do intenso brilho e começa a questionar se deverá marcar consulta no oftamologista. Nota uma hipersensibilidade incomum à luz solar, entre outros desaires que se vão sobrepondo, em ondas selvagens a cavalgar umas sobre as outras. No trânsito os acidentes abundam e na rua os incidentes também não dão tréguas. Um aceleramento geral pautua os dias e sente que está dentro de um filme, de um sonho lúcido, de um cenário mais brilhante do que seria real. “Estarei a sonhar?” pergunta-se, enquanto se move entre automático e rotinas, com a falta de melhor resposta. A dor de cabeça que se concentrou entre as sobrancelhas também não ajuda. Saber que o ponto vital tem o nome de yintang, pouco lhe interessa. Sente falta da paz no seu palácio e o espírito inquieta-se quando até o sossego parece agitar-se.

Como se não bastasse, tem tido uma tensão dos diabos também nas costas, com contraturas antigas e novas a (res)surgirem do nada. Há um certo sentimento de assoberba e o trabalho vem surgindo em urgências. ASAP, que do “quando possas” degenerou a um “larga tudo e faz já isto a todo o gás, para não cair o Carmo e a Trindade”. É urgente dar resposta aquela mensagem do whatsapp, para não gerar uma calamidade igual ou pior, que a do terramoto de 1755. Porque à gomes sa foda o distante terramoto, ante o perigo dos sentimentos (de)ge(ne)rados de que o outro se sinta pendurado, desrespeitado e outros “ados” mascarados de soberba para encobrir uma penúria de baixa autoestima. No fim de contas, somos apenas animais, voláteis e sensíveis, a tentar ser humanos e não é obra fácil meus amigos. Nem pera doce, nem bolo de chocolate com cobertura de chocolate, para não apoquentar os sensíveis ao croissant com manteiga.

É um período de fúria, impulso, frustração, criatividade, exasperação e “que é que queres?”, “mas quantos são?”

Começou em inicios de abril e tem-se estendido por estas semanas, o Qingming (清明, Qīngmíng) o quinto termo solar. Traduzindo literalmente temos, “Claro e brilhante” e com alguma liberdade “Brilho Puro”. A luz está diferente, em que artistas mais atentos das (des)variações das tonalidades, terão já notado a tonalidade mais branca do ambiente em geral. E desde que o sol nasce, parece que estamos em palco, com os focos apontados à cara. Também a golden hour, faz uma pausa. Aquele tom dourado do fim do dia, que os fotógrafos tanto elogiam, desvaneceu-se. Foi aonde? Não digo.

As gargantas irritam o goto e os espirros ficam ali em suspenso, na cana do nariz. É um período de fúria, impulso, frustração, criatividade, exasperação e “que é que queres?”, “mas quantos são?”. Se as buzinas regojizam-se num pandã com as sirenes, melhor seria canalizar a energia para limpezas. Limpezas à séria, intensas e profundas! Daquelas de virar tudo do avesso, da cave à ponta da chaminé. O acelerador pede pé, mas atenção… que a atenção já teve em melhores dias. Bom é para criar, transformar, inovar e arrebitar. Sabendo assim estar, finalizamos o primeiro verão em grande. Que a primavera se finda, mas ainda temos a passagem pelo o sexto termo solar. Ao virar da esquina assobia o Guyu (谷雨, Gǔyǔ) “Chuva de grãos”. Disseram que davam chuva mas depois não deram nada. Maganos! As gotas que nunca mais apareceram e que anunciaram a vinda. Pelo menos assim disseram, na previsão do tempo, de gotas a grãos, há 2200 anos atrás, os especialistas da dinastia Han da China ancestral. Era isso! Chuva e arroz, para sacrificar à fome e encher barrigas roliças de cerveja. Sem tremeliques, com tremoços e bom proveito!

宜踏青, 宜祭祖;
摘蕨菜, 食青团;
趋芳树, 择园圃。

Yí tàqīng, yí jì zǔ;
zhāi jué cài, shí qīng tuán;
qū fāng shù, zé yuánpǔ.

“Vá passear e preste homenagem aos ancestrais que partiram.
Colha fetos e coma bolas de arroz verdes.
As flores estão esplendorosas
É tempo de ir dar um passeio no parque”

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